Pesquisar este blog

sábado, 18 de maio de 2013

A LASTIMÁVEL PRECARIEDADE DA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

Foto: Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca       Fonte: arquivo pessoal
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Há pouco tempo atrás, tive a oportunidade de ver no programa “RODA VIVA”, um pronunciamento do ilustre Prof. Chico de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), acerca das atuais condições da Universidade Pública Brasileira. Na ocasião, ele fez um desabafo e, ao mesmo tempo, expressou uma grande verdade que vai à contramão daqueles que idolatram a política educacional vigente em nosso país. Ele firmou que a nossa universidade pública está se transformando em autênticos colégios, em virtude do democratismo que povoa as mentes de nossos governantes, que veem na universidade brasileira um mero canal de inserção de jovens no mercado de trabalho.
Na referida entrevista coletiva, ele afirma que a função histórica da universidade, desde sua origem, é pensar a ciência, o país, o mundo e esta não é uma tarefa para qualquer um. Infelizmente, nem todos são dotados das condições intelectuais e/ou mesmo, por diversas razões, não possuem vocação para tal. Para ele o mercado de trabalho deve se municiar de profissionais que sejam capacitados pelos cursos técnicos e/ou tecnológicos dos institutos tecnológicos já existentes, os quais devem ser mais bem aparelhados e capacitados para exercer esta função.      
Na verdade, o Prof. Chico de Oliveira, do alto de sua extrema sabedoria, está coberto de razão. Assistimos principalmente a partir do governo Lula, à emergência de uma política educacional que, em nome de uma democracia escamoteada (democratismo) vem inchando as nossas universidades, sucateando-as e comprometendo, até as ultimas consequências, sua já precária qualidade. Temos observado, a olhos nus, a ocorrência de diversos concursos públicos manipulados para atender a interesses particulares e/ou de grupos de pesquisas. Ao lado destas falsificações dos concursos, outros fatos saltam aos olhos de todos: invocando novamente o democratismo ampliam-se, indefinidamente, o número de vagas para ingressantes nas universidades, ocasionando a existência de salas de aulas superlotadas, com 50, 60, até 100 alunos. É impossível se falar de qualidade de ensino diante desta realidade, que somente poderá vir daqueles que nada entendem de educação.
Por outro lado, vemos as universidades brasileiras manipulando suas pesquisas e formatando-as de acordo com os interesses dos mega-grupos econômicos, dirigidos pelas empresas inter/multi/transnacionais. Enquanto isso, o outro sustentáculo do tripé básico que deveria nortear a universidade, a extensão, é deixado de lado e/ou jogado à própria sorte. Aí, perguntamos: Que tipo de pessoas estes senhores da educação brasileira pretendem formar? Qual a responsabilidade que a universidade brasileira, sustentada com o dinheiro público, realmente tem para com as comunidades? Quais os reais compromissos têm nossos governantes para com a coisa pública?
Assim, enquanto perdurarem este tipo de raciocínio e esta forma de pensamento, com toda a certeza, o Brasil jamais aparecerá entre as primeiras 100 (cem) melhores universidades do mundo. Enquanto persistir esta lógica ilógica, o Brasil jamais formará seres humanos e cientistas capazes de pensar a sociedade, a ciência autêntica e os destinos da humanidade. Temos que parar de brincar de cientistas! Enfim, temos que parar de sermos capachos da sucata e do rejeito tecnológico das nações ditas de “Primeiro Mundo”.  Precisamos, urgentemente, sair de nosso casulo confortável para muitos e repensar nossa educação, norteados por um novo paradigma que seja capaz de atender as nossas próprias necessidades e anseios.


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

domingo, 12 de maio de 2013

Nada melhor do que não fazer nada!

 Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca (2013)        Fonte: Arquivo Prof. Valter


Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*

Você sabia que todo mundo tem direito ao ócio, à preguiça? Pois é, neste mundo de hoje fica difícil imaginar isso. Nos tempos presentes, nossa rotina diária começa com um café da manhã, engolido às pressas, pois o tempo é curto para iniciarmos a jornada de trabalho. Saímos de casa correndo (para não dizer voando), para tomar dois, até três ônibus (às vezes também o metrô) para chegarmos ao local de trabalho. Na hora do almoço, temos uma hora contada para engolirmos uma “quentinha” e, logo após, retornarmos aos afazeres diários. À noitinha tomamos mais aquela quantidade inicial de conduções para chegarmos ao lar (lá pelas 22 horas). Isto se o trânsito ou as enchentes permitirem. Na manhã seguinte é a mesma rotina, e, assim, sempre!
Então perguntamos: Vivemos para que? Como qual objetivo? Quando teremos um tempinho para o lazer, para os filhos, para a família?
Pois bem! Meus (minhas) caros (as) leitores (as)! Esta é o momento histórico denominado sociedade da modernidade ou “tempos modernos”, como diria o nosso saudoso Charles Chaplin. Nesta sociedade involucral, o homem se coisifica, se torna um mero objeto a serviço da mais-valia. Nestes tempos nebulosos d’agora, tudo gira em torno da banalidade, do desperdício, do supérfluo. O que tem sentido, de fato, nesta sociedade é a nossa capacidade de consumir bugigangas, objetos inúteis, invenções para as quais ainda não existem necessidades reais. É o tempo do desejo fictício, do fetiche e da sedução dos bens descartáveis.  E, o pior é que conseguem fazer com que a gente ligue a felicidade à necessidade do consumo de bens materiais irrisórios. O homem, nesta sociedade do culto ao supérfluo, tornou-se também mercadoria a serviço da expansão dos lucros dos grandes grupos inter/multi/transnacionais. Tudo no mundo é cotado e medido pelas leis de mercado, pelas bolsas de valores, pelo capital volátil e especulativo que circula o planeta à procura de matérias-primas e de mão de obra barata.
Quantas vezes a gente não tem vontade de não fazer nada, de dormir um pouquinho a mais, de passar mais tempo com a família, com os filhos, porém, as leis imperiosas do capital estão sempre a nos lembrar de que somos coisas, meras mercadorias, que precisamos trabalhar para aumentar o lucro de uma seleta e pequena parcela de seres humanos, donos do capital. 
É preciso, urgentemente, reverter e subverter esta lógica “ilógica” e estes valores fictícios, sob pena de daqui a bem pouco tempo sejamos trocados por outros tipos de mercadorias bem mais irrisórias do que as que aí estão. É preciso acabar com a banalização do ser humano, resgatar os autênticos valores que dão significado à nossa real essência de seres humanos pensantes, comunicantes e transformadores. Se conseguirmos subverter esta ordem escravagista do grande capital, quem sabe daqui a alguns anos possamos ser capazes de contemplar o mundo como reflexo de nossa própria criação. Aí si, estaremos dando um passo real em direção à construção de nossa verdadeira essência de seres humanos libertos, com todo o direito ao ócio e à preguiça. 


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba. pesquisa.fonseca@gmail.com

domingo, 11 de dezembro de 2011

Curso de Geologia e Paleontologia de Peirópolis vai virar livro


Prof. Valter Machado da Fonseca (2011)

 Prof. Valter Machado da Fonseca

O Professor MS. Valter Machado da Fonseca, Geógrafo, mestre e  doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia/MG – (UFU) e docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE), idealizou e ministrou um curso de extensão em Geologia e Paleontologia, envolvendo os aspectos da bacia fossilífera do Sítio Paleontológico de Peirópolis, bairro rural da cidade de Uberaba, estado de Minas Gerais. O evento foi uma realização do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Uberaba, com o apoio fundamental do seu diretor Prof. Dr. André Fernandes. O curso recebeu ainda o importante apoio do Programa Institucional de Atividades Complementares (PIAC/Uniube).
O curso foi intitulado “Analisar o presente para compreender o passado: um estudo geológico, paleontológico e paleoclimático do Sítio Paleontológico de Peirópolis – Uberaba/MG foi totalmente apostilado e, as apostilas foram elaboradas pelo Prof. Valter Machado da Fonseca e são frutos de intensas pesquisas, por ele realizadas sobre o assunto. O professor Valter Fonseca explica que a elaboração do material didático foi uma tarefa trabalhosa e complexa. Assim, a proposta não foi a de realizar apenas mais um curso na área de Geologia e Paleontologia, mas, tratou-se fundamentalmente, de se organizar um curso que busque elementos e aspectos inéditos, pois, a proposta visa à reconstituição dos aspectos paleoclimáticos e paleogeográficos da região de Peirópolis da época do Cretáceo Superior (período entre 60 e 70 milhões de anos atrás). Realizar uma tarefa como esta, nos moldes a que o curso se propõe é, de fato, um desafio a ser superado. E, esta superação só foi possível graças a uma intensa e detalhada pesquisa bibliográfica dos mais diferentes trabalhos produzidos pela literatura científica sobre as atividades desenvolvidas no Centro Dr. Llewellyn Ivor Price. Isto demandou um dispendioso tempo de pesquisas meticulosas e arduamente trabalhadas.
O Prof. Valter Fonseca destaca a importância do trabalho árduo e profícuo do Professor Luís Carlos Borges Ribeiro e toda sua equipe. Afirma que se não fosse os trabalhos de Ribeiro e sua equipe, talvez o Complexo Científico de Peirópolis nem existisse e que o local provavelmente seria explorado apenas comercialmente, do ponto de vista simplesmente turístico. Ele reafirma que nada possui contra a exploração turística do local, mas declara que isto pode ser feito aliado à exploração do grande acervo científico da localidade. Acredita que desprezar o grande potencial de indícios e informações científicas seria até um crime contra a humanidade e a comunidade científica em geral.
 O Prof. Valter Machado se surpreendeu com o material de pesquisa que deu origem às apostilas do curso. O conjunto de quatro apostilas reuniu pesquisas e textos inéditos (do próprio Prof. Valter) de temas que foi da Geologia Geral, passando pela Paleontologia a elementos de Astronomia, Paleogeografia e Paleoclimatologia. Na verdade, a tentativa de reconstituição do paleoambiente de Peirópolis no Cretáceo Superior, acabou por produzir um farto e inédito material. Diante disso, o Prof. Valter resolveu organizar todo esse material em um livro com quatro capítulos, seguindo a mesma sequência dos assuntos e temas tratados no curso. A publicação deste livro está sendo negociada junto à editora da Universidade Federal de Uberlândia (EDUFU) e tem previsão de lançamento para o início do ano de 2012 (primeiro semestre). Além da EDUFU, existem mais três editoras (todas de São Paulo) interessadas em publicar a obra.
Por fim, o professor afirma que a produção deste livro acerca dos aspectos da Geologia Geral e Regional, bem como de aspectos da Paleontologia, Paleoclimatologia e Paleogeografia da região de Peirópolis, além de se constituir em importante colaboração para a comunidade científica, em especial a parcela que se interessa pelo estudo dessa temática, é, sobretudo, uma forma de homenagear a todos que lutaram (e lutam) pela construção e preservação do Complexo Científico do Sítio Paleontológico de Peirópolis, a exemplo do Prof. Luís Carlos Borges Ribeiro e toda sua equipe.     

sábado, 16 de julho de 2011

63ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC – UFG/GOIÂNIA (GO) – BRASIL – 2011

Prof. Valter Machado da Fonseca com alunos do minicurso na 63ª RA/SBPC em Goiânia (GO)

Por Valter Machado da Fonseca
Aconteceu entre os dias 10 e 15 de julho de 2011, na cidade de Goiânia (capital de Goiás), a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (63ª RA/SBPC). O evento ocorreu no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás e contou com a participação de, aproximadamente, 15.0000 participantes. A maior reunião científica da América Latina que teve como tema central “CERRADO: água, alimento e energia” foi um grande sucesso, pois, trouxe à tona o relevante debate sobre o bioma Cerrado, que historicamente, sempre foi considerado um ecossistema marginal, em detrimento da exuberância de biomas como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica.
Não que os dois biomas supracitados não tenham importância, muito pelo contrário, são ecossistemas importantíssimos para a teia da vida e para a preservação do conjunto de espécies de seres vivos e para o equilíbrio do grande ecossistema planetário. Mas, o fato é que nesta 63ª RA/SBPC veio à tona o tão relevante e necessário debate sobre a centralidade e importância do Cerrado brasileiro. A expansão desordenada da fronteira agrícola no Cerrado brasileiro demanda um aprofundamento urgente das discussões e debates sobre a real importância deste riquíssimo bioma, que sempre foi secundarizado em detrimento dos demais ecossistemas brasileiros.
A exploração desordenada do Cerrado ganhou ritmo acelerado e maior ênfase a partir da década de 1960 com os pacotes tecnológicos que inauguraram o período denominado de “Revolução Verde” no país. A partir daí, com a descoberta das tecnologias que deram o suporte para a correção da elevada acidez dos solos do Cerrado, o bioma passou a ser explorado desordenadamente, sem um estudo mais aprofundado sobre sua real importância e acerca de seu papel enquanto um ecossistema que contém a grande caixa d’água que abastece a maior parte do Brasil e parcela significativa de diversos países da América do Sul, além de sua altíssima relevância quanto à preservação do equilíbrio ambiental deste país de dimensões continentais.
O fato agravante é que, a partir da “Revolução Verde”, o nosso Cerrado foi invadido por uma onda gigantesca de insumos agrícolas, herbicidas, pesticidas a diversos agrotóxicos, que culminou com a expansão exponencial da fronteira agrícola no bioma e, consequentemente, com a mecanização também desordenada dos solos do Cerrado. Este violento ataque biotecnológico ao bioma exterminou diversas espécies endêmicas de seres vivos, provocou a erosão genética das espécies, que se agravou com a retirada da vegetação original e introdução de inúmeras espécies exóticas no bioma. Isto tudo sem considerar a lixiviação dos solos e o início de um processo erosivo que ocasionou o surgimento de ravinas e voçorocas.
O fundamental nesta 63ª RA/SBPC foi a possibilidade de “um repensar” num conjunto de ações que podem levar à gestão, uso e manejo sustentáveis do Cerrado brasileiro. Diante disso, a temática central do evento permitiu a oportunidade de uma reavaliação mais séria acerca da significação do bioma Cerrado e sua correlação e interdependência com os demais biomas brasileiros. Permitiu, acima de tudo, uma reflexão mais aprofundada sobre a necessidade de se repensar no planejamento das ações antropogênicas sobre o rico acervo que compõe o importante mosaico de seres vivos e recursos naturais do Cerrado brasileiro. Sob estes aspectos, em especial, a 63ª RA/SBPC foi deveras importante.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Novo Código Florestal: ética x impunidade

Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca*
A votação do novo Código Florestal é manchete nos principais meios de comunicação brasileiros nos últimos dias. Como sempre ocorre com os debates ambientais neste último período, o que está como principal foco das discussões e debates não é a apresentação de propostas eficazes que possam dar conta dos principais problemas ambientais, que tanto tem preocupado a população, mas as discussões se centram em como burlar a legislação ambiental para proteger os infratores que cometem inúmeros crimes ambientais pelo país afora. Aliás, as ausências de uma política fundiária, séria e eficaz, de fiscalização e combate aos crimes ambientais [em especial nas grandes áreas de desmatamento e queimadas], de punição dos principais responsáveis pelos desmandos ambientais, conjugadas com ações efetivas de implantação de nossa legislação ambiental [por sinal, uma das melhores do mundo no papel], tem sido a marca da incompetência de todos os governos [em todas as esferas] nos últimos tempos.
Pelo que estamos acompanhando por intermédio da mídia, os debates estão centralizados não em combater os desmandos ambientais, mas em como fazer concessões para anistiar os infratores em função de argumentos como o aumento da produção agropecuária brasileira. Esta é a tônica dos principais discursos no Congresso Nacional. Presenciamos um enorme esforço por parte da bancada ruralista [e seus apoiadores] em construir um discurso de defesa dos infratores ambientais, escondido atrás da argumentação de que “esses senhores” [infratores] sempre contribuíram para o fortalecimento da economia e da produção agrícola brasileira. Tentam, com todos os argumentos possíveis [e até impossíveis] transformar criminosos em heróis nacionais, aliás, esta estratégia sempre fez parte da história oficial do Brasil.
Ora! Caros leitores! Observando a maioria das potências capitalistas atuais observamos que o aumento da produção agrícola não se mede pelo aumento da quantidade de terras nas mãos dos fazendeiros e grandes grupos e/ou corporações multi/transnacionais. Não se mede a produção agrícola com concentração de terras nas mãos de poucos, pelo tamanho do latifúndio. Ao contrário, na imensa maioria dos países ditos “desenvolvidos” não existem grandes propriedades e estabelecimentos rurais, mas sim pequenas propriedades altamente produtivas. A eficácia da produtividade agrícola se consegue com tecnologias apropriadas utilizadas, verticalmente, em pequenas propriedades e não com o aumento exponencial da quantidade de terras, ou seja, com a abertura interminável de novas fronteiras agrícolas, exterminando com os principais recursos naturais dos principais biomas do país. Haja vista que estudos apontam que investidores estrangeiros da especulação imobiliária são “donos” de quase 1/5 [um quinto] da nossa Amazônia.
Na verdade, os principais discursos em prol do meio ambiente no Brasil trazem em suas entrelinhas interesses particulares ou de estratégias protecionistas a grupos multi/transnacionais ou de grandes latifundiários que usam a terra apenas com fins especulativos. Não dá para entender um país com tamanha quantidade de terras férteis, de dimensões continentais, com parte significativa de sua população em condições precárias de sobrevivência, abaixo da linha de pobreza e passando fome. Portanto, as discussões em torno das temáticas ambientais deveriam se orientar em torno da aplicação efetiva de nossa legislação ambiental, aliada a uma política fundiária justa e efetiva, embasada em pequenas propriedades rurais e não em políticas protecionistas aos latifundiários e especuladores, que são os verdadeiros responsáveis pelos desmandos contra o meio ambiente no país. Aliás, esta discussão que aflorou a partir do novo Código Florestal só serviu para mostrar que o Estado brasileiro e os grandes grupos econômicos não têm qualquer interesse pelo tal “desenvolvimento sustentável” e que este discurso não passa de uma grande falácia. As grandes temáticas ambientais, no fim das contas, são utilizadas em conformidade com os interesses dos grandes infratores ambientais no Brasil, seja no campo, seja na indústria.            


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

quarta-feira, 30 de março de 2011

Será que só eu vi o que aconteceu no Japão?

Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca*
No ano de 2010 o mundo, literalmente, foi balançado pelo terremoto no Haiti. Caiu a mascara que muitas nações queriam ocultar: com aquele terremoto, a natureza sabiamente mostrou a todo o planeta a nudez horrenda da desigualdade social que marca a sociedade moderna em estado de total necrose. A natureza mostrou os horrores de uma população que clamava por socorro: uma população morta de fome, onde as mães tentavam enganar a fome das crianças com tortilhas de barro.
Ainda em 2010, a natureza voltou a se manifestar no Chile, com outro grande evento sísmico. Centenas de pessoas pereceram vitimadas pelo terremoto chileno. A natureza resolveu mostrar toda sua ira neste ano de 2010: foram grandes catástrofes por diversas regiões do planeta, como a maior nevasca da história da França, a grande nevasca de Nova York, os grandes tornados nos EUA, enchentes violentíssimas na China, na América Central, na Ásia, no Brasil, além de furacões, maremotos, chuvas de granizo, grandes secas em regiões que são tipicamente úmidas. Enfim, a natureza está mostrando indícios de alguma coisa, está nos dizendo que alguma coisa vai muito mal.
Ao assistirmos aos noticiários vemos a mídia tratar essas questões como perfeitamente normais. As notícias são transmitidas com a maior naturalidade, como se nada estivesse ocorrendo. Como se o fato de crianças [seres humanos] comerem barro, para saciar a fome, fosse algo tipicamente normal. O que tem sido feito pelo povo haitiano, agora que os holofotes mudaram seu foco?
A natureza mostrou que é altamente democrática: primeiro ela voltou sua ira contra a população paupérrima do Haiti, depois ao povo chileno. Agora, contra o povo mais desenvolvido, tecnologicamente falando: o povo japonês. O terremoto no território japonês foi um evento natural, em decorrência da acomodação de placas tectônicas. As vítimas deste evento sísmico já ultrapassam 11.000. Este evento de grande magnitude [o maior ocorrido no Japão] deslocou o eixo da Terra em alguns graus [o que equivale a alguns centímetros]. Parece uma coisa irrisória, mas, na verdade isto é o indício mais forte e mais significativo que o planeta nos fornece, o que significa que a natureza está dizendo que algo grandioso está para acontecer neste período geológico.
Mas, o que considero mais grave, em que pese o sofrimento de todas as famílias vitimadas pelo evento sísmico no Japão, foi o que ocorreu depois dele: o abalo das estruturas do grande complexo nuclear japonês, deixando totalmente exposto o núcleo de plutônio do reator 3 [três]. É bom ressaltar que o plutônio é um elemento altamente radioativo. Ironicamente, foi o mesmo utilizado pelos EUA em suas bombas atômicas, lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, na 2ª Guerra Mundial. O plutônio exposto está emitindo partículas radioativas para a atmosfera e para os corpos d’água, que já estão contaminados em mais de 2000 vezes acima dos índices aceitáveis. Além disso, as partículas radioativas na corrente atmosférica já atravessam o Oceano Pacífico em direção à Europa.
E, mais uma vez, a mídia trata a questão com inigualável naturalidade: talvez seja para não expor as contradições que movem o atual modelo econômico de produção, demonstrando que o motor do sistema capitalista está em total estágio de putrefação. Afinal, este sistema precisa da desgraça humana para sobreviver. Com os terremotos, a natureza demonstra o que pode fazer com a humanidade. Ela não precisa da raça humana para continuar existindo, muito pelo contrário, talvez ela viva melhor sem a espécie humana. E, finalmente, neste terremoto, o homem mostrou, por intermédio da imprudência nuclear, o que ele pode fazer contra si mesmo.  


* Escritor. Técnico em Mineração, Geógrafo pela UFU, Mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Pesquisador da área de “Alterações climáticas”. Professor da Universidade de Uberaba – UNIUBE. machado04fonseca@gmail.com

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A mídia e o veneno que nos servem à mesa


Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca*
Prezado (a) leitor (a)!

Por acaso, você já parou para pensar nos alertas e precauções sobre saúde que a TV, os jornais e o rádio nos trazem todos os dias? Se observarmos, com atenção, estes alertas, vamos perceber que, segundo a mídia, quase tudo faz mal à saúde. Em especial, os alimentos, quase que em sua totalidade, podem trazer sérias consequências para a saúde humana. Todos aumentam o coeficiente de colesterol, possuem gorduras saturadas, dentre outras sérias consequências. Somente o ovo, alimento milenar e nosso velho conhecido, já foi de “bandido” a “herói” uma centena de vezes. E as dietas para perder peso? Criam mil e uma fórmulas milagrosas para solucionar os problemas, também milenares, de obesidade. E todas essas campanhas são regadas com uma superdosagem de sensacionalismo, o tempero ideal para vender as fórmulas e as notícias. Aliás, elas [as notícias] também são enlatadas. Elas vêm envolvidas no tempero que leva uma pitada de violência urbana, outras de mediocridade, de pesquisas [algumas sérias e outras inventadas], de dados estatísticos, tudo isso sem contar o ingrediente que não pode faltar no banquete dos noticiários, uma grande dosagem de exagero. Se formos seguir, ao pé da letra, o que nos propõem as fórmulas mirabolantes da nossa mídia de cada dia, simplesmente deixaremos de viver, pois, tudo é proibido. Aliás, o que não é proibido hoje, pode sê-lo amanhã e vice-versa.

Não estou dizendo que não devamos ter o devido cuidado com a saúde e com a escolha de nossos alimentos. O que, de fato, estou tentando demonstrar é que por trás das notícias existe uma grande pitada de ideologia consumista, voltada não somente para vender as notícias, mas, sobretudo, para manter vivo o exorbitante lucro da indústria de alimentos, de vestuário, de material esportivo, de inibidores de apetite, de revistas e materiais “especializados” em dieta. Aliás, estes setores da indústria moderna possuem as maiores fatias dos lucros da sociedade de consumo. Quando noticiam o aumento da produção de alimentos, nunca dão ênfase às cifras extraordinárias que são gastas em insumos agrícolas, em agrotóxicos, herbicidas, pesticidas, hormônios, em produtos transgênicos, dentre inúmeros outros venenos aplicados em nossa agricultura e pecuária. Quando ficamos seduzidos por aquele tomate [vermelhinho] que vemos na feira ou no sacolão, ou aquela alface verdinha, aquela cebola, couve-flor, dentre outras verduras, aparentemente saudáveis, não temos a mínima ideia da quantidade de agrotóxicos e herbicidas gasta na sua produção. Quando vemos aquele filé de frango, de carne bovina, de carne suína, aparentemente saudáveis, não temos a mínima ideia da quantidade de hormônios e outros produtos utilizados em sua produção. O frango que há poucos anos atrás levava dois meses para engordar e ser abatido, hoje é engordado em 20 dias. É a tecnologia de alimentos, que aumenta, de forma exponencial os lucros, e diminui, também de forma exponencial nossa saúde, ao mesmo tempo em que promove o surgimento de novas doenças e o fortalecimento das antigas.

As fórmulas realmente eficazes para o combate à obesidade, para uma alimentação saudável, ainda são aquelas que respeitam o tempo e as regras da natureza. Apesar de os alimentos apresentarem uma aparência mais feia, a alface, o tomate e a couve da nossa hortinha de fundo de quintal ainda possuem o seu valor e merecem o nosso respeito. O nosso franguinho caipira, apesar de ser mais sem jeito, mais magrinho e às vezes até com as perninhas tortas, também merece o nosso mais profundo respeito, admiração e consideração. Contra a obesidade, as pesquisas midiáticas ainda não descobriram nada mais saudável e eficiente que as velhas e seculares caminhadas e/ou práticas esportivas regulares. As receitas oferecidas pelas leis reais da natureza, só necessitam de um tempero: uma forte dosagem de simplicidade e bom humor.


* Escritor. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com