Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca (2013) Fonte: Arquivo Prof. Valter |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Você
sabia que todo mundo tem direito ao ócio, à preguiça? Pois é, neste mundo de
hoje fica difícil imaginar isso. Nos tempos presentes, nossa rotina diária
começa com um café da manhã, engolido às pressas, pois o tempo é curto para
iniciarmos a jornada de trabalho. Saímos de casa correndo (para não dizer
voando), para tomar dois, até três ônibus (às vezes também o metrô) para
chegarmos ao local de trabalho. Na hora do almoço, temos uma hora contada para
engolirmos uma “quentinha” e, logo após, retornarmos aos afazeres diários. À
noitinha tomamos mais aquela quantidade inicial de conduções para chegarmos ao
lar (lá pelas 22 horas). Isto se o trânsito ou as enchentes permitirem. Na
manhã seguinte é a mesma rotina, e, assim, sempre!
Então
perguntamos: Vivemos para que? Como qual
objetivo? Quando teremos um tempinho
para o lazer, para os filhos, para a família?
Pois
bem! Meus (minhas) caros (as) leitores (as)! Esta é o momento histórico denominado
sociedade da modernidade ou “tempos modernos”, como diria o nosso saudoso
Charles Chaplin. Nesta sociedade involucral, o homem se coisifica, se torna um
mero objeto a serviço da mais-valia. Nestes tempos nebulosos d’agora, tudo gira
em torno da banalidade, do desperdício, do supérfluo. O que tem sentido, de
fato, nesta sociedade é a nossa capacidade de consumir bugigangas, objetos
inúteis, invenções para as quais ainda não existem necessidades reais. É o
tempo do desejo fictício, do fetiche e da sedução dos bens descartáveis. E, o pior é que conseguem fazer com que a
gente ligue a felicidade à necessidade do consumo de bens materiais irrisórios.
O homem, nesta sociedade do culto ao supérfluo, tornou-se também mercadoria a
serviço da expansão dos lucros dos grandes grupos inter/multi/transnacionais.
Tudo no mundo é cotado e medido pelas leis de mercado, pelas bolsas de valores,
pelo capital volátil e especulativo que circula o planeta à procura de
matérias-primas e de mão de obra barata.
Quantas
vezes a gente não tem vontade de não fazer nada, de dormir um pouquinho a mais,
de passar mais tempo com a família, com os filhos, porém, as leis imperiosas do
capital estão sempre a nos lembrar de que somos coisas, meras mercadorias, que
precisamos trabalhar para aumentar o lucro de uma seleta e pequena parcela de
seres humanos, donos do capital.
É
preciso, urgentemente, reverter e subverter esta lógica “ilógica” e estes
valores fictícios, sob pena de daqui a bem pouco tempo sejamos trocados por
outros tipos de mercadorias bem mais irrisórias do que as que aí estão. É
preciso acabar com a banalização do ser humano, resgatar os autênticos valores
que dão significado à nossa real essência de seres humanos pensantes,
comunicantes e transformadores. Se conseguirmos subverter esta ordem
escravagista do grande capital, quem sabe daqui a alguns anos possamos ser
capazes de contemplar o mundo como reflexo de nossa própria criação. Aí si,
estaremos dando um passo real em direção à construção de nossa verdadeira
essência de seres humanos libertos, com todo o direito ao ócio e à
preguiça.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Professor e pesquisador da
Universidade de Uberaba. pesquisa.fonseca@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário