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quarta-feira, 30 de março de 2011

Será que só eu vi o que aconteceu no Japão?

Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca*
No ano de 2010 o mundo, literalmente, foi balançado pelo terremoto no Haiti. Caiu a mascara que muitas nações queriam ocultar: com aquele terremoto, a natureza sabiamente mostrou a todo o planeta a nudez horrenda da desigualdade social que marca a sociedade moderna em estado de total necrose. A natureza mostrou os horrores de uma população que clamava por socorro: uma população morta de fome, onde as mães tentavam enganar a fome das crianças com tortilhas de barro.
Ainda em 2010, a natureza voltou a se manifestar no Chile, com outro grande evento sísmico. Centenas de pessoas pereceram vitimadas pelo terremoto chileno. A natureza resolveu mostrar toda sua ira neste ano de 2010: foram grandes catástrofes por diversas regiões do planeta, como a maior nevasca da história da França, a grande nevasca de Nova York, os grandes tornados nos EUA, enchentes violentíssimas na China, na América Central, na Ásia, no Brasil, além de furacões, maremotos, chuvas de granizo, grandes secas em regiões que são tipicamente úmidas. Enfim, a natureza está mostrando indícios de alguma coisa, está nos dizendo que alguma coisa vai muito mal.
Ao assistirmos aos noticiários vemos a mídia tratar essas questões como perfeitamente normais. As notícias são transmitidas com a maior naturalidade, como se nada estivesse ocorrendo. Como se o fato de crianças [seres humanos] comerem barro, para saciar a fome, fosse algo tipicamente normal. O que tem sido feito pelo povo haitiano, agora que os holofotes mudaram seu foco?
A natureza mostrou que é altamente democrática: primeiro ela voltou sua ira contra a população paupérrima do Haiti, depois ao povo chileno. Agora, contra o povo mais desenvolvido, tecnologicamente falando: o povo japonês. O terremoto no território japonês foi um evento natural, em decorrência da acomodação de placas tectônicas. As vítimas deste evento sísmico já ultrapassam 11.000. Este evento de grande magnitude [o maior ocorrido no Japão] deslocou o eixo da Terra em alguns graus [o que equivale a alguns centímetros]. Parece uma coisa irrisória, mas, na verdade isto é o indício mais forte e mais significativo que o planeta nos fornece, o que significa que a natureza está dizendo que algo grandioso está para acontecer neste período geológico.
Mas, o que considero mais grave, em que pese o sofrimento de todas as famílias vitimadas pelo evento sísmico no Japão, foi o que ocorreu depois dele: o abalo das estruturas do grande complexo nuclear japonês, deixando totalmente exposto o núcleo de plutônio do reator 3 [três]. É bom ressaltar que o plutônio é um elemento altamente radioativo. Ironicamente, foi o mesmo utilizado pelos EUA em suas bombas atômicas, lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, na 2ª Guerra Mundial. O plutônio exposto está emitindo partículas radioativas para a atmosfera e para os corpos d’água, que já estão contaminados em mais de 2000 vezes acima dos índices aceitáveis. Além disso, as partículas radioativas na corrente atmosférica já atravessam o Oceano Pacífico em direção à Europa.
E, mais uma vez, a mídia trata a questão com inigualável naturalidade: talvez seja para não expor as contradições que movem o atual modelo econômico de produção, demonstrando que o motor do sistema capitalista está em total estágio de putrefação. Afinal, este sistema precisa da desgraça humana para sobreviver. Com os terremotos, a natureza demonstra o que pode fazer com a humanidade. Ela não precisa da raça humana para continuar existindo, muito pelo contrário, talvez ela viva melhor sem a espécie humana. E, finalmente, neste terremoto, o homem mostrou, por intermédio da imprudência nuclear, o que ele pode fazer contra si mesmo.  


* Escritor. Técnico em Mineração, Geógrafo pela UFU, Mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Pesquisador da área de “Alterações climáticas”. Professor da Universidade de Uberaba – UNIUBE. machado04fonseca@gmail.com

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