Foto: Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca Fonte: arquivo pessoal |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Há
pouco tempo atrás, tive a oportunidade de ver no programa “RODA VIVA”, um
pronunciamento do ilustre Prof. Chico de Oliveira, da Universidade de São Paulo
(USP), acerca das atuais condições da Universidade Pública Brasileira. Na
ocasião, ele fez um desabafo e, ao mesmo tempo, expressou uma grande verdade
que vai à contramão daqueles que idolatram a política educacional vigente em
nosso país. Ele firmou que a nossa universidade pública está se transformando
em autênticos colégios, em virtude do democratismo que povoa as mentes de
nossos governantes, que veem na universidade brasileira um mero canal de
inserção de jovens no mercado de trabalho.
Na
referida entrevista coletiva, ele afirma que a função histórica da
universidade, desde sua origem, é pensar a ciência, o país, o mundo e esta não
é uma tarefa para qualquer um. Infelizmente, nem todos são dotados das
condições intelectuais e/ou mesmo, por diversas razões, não possuem vocação
para tal. Para ele o mercado de trabalho deve se municiar de profissionais que
sejam capacitados pelos cursos técnicos e/ou tecnológicos dos institutos
tecnológicos já existentes, os quais devem ser mais bem aparelhados e
capacitados para exercer esta função.
Na
verdade, o Prof. Chico de Oliveira, do alto de sua extrema sabedoria, está
coberto de razão. Assistimos principalmente a partir do governo Lula, à
emergência de uma política educacional que, em nome de uma democracia
escamoteada (democratismo) vem inchando as nossas universidades, sucateando-as
e comprometendo, até as ultimas consequências, sua já precária qualidade. Temos
observado, a olhos nus, a ocorrência de diversos concursos públicos manipulados
para atender a interesses particulares e/ou de grupos de pesquisas. Ao lado
destas falsificações dos concursos, outros fatos saltam aos olhos de todos:
invocando novamente o democratismo ampliam-se, indefinidamente, o número de
vagas para ingressantes nas universidades, ocasionando a existência de salas de
aulas superlotadas, com 50, 60, até 100 alunos. É impossível se falar de
qualidade de ensino diante desta realidade, que somente poderá vir daqueles que
nada entendem de educação.
Por
outro lado, vemos as universidades brasileiras manipulando suas pesquisas e
formatando-as de acordo com os interesses dos mega-grupos econômicos, dirigidos
pelas empresas inter/multi/transnacionais. Enquanto isso, o outro sustentáculo
do tripé básico que deveria nortear a universidade, a extensão, é deixado de
lado e/ou jogado à própria sorte. Aí, perguntamos: Que tipo de pessoas estes senhores da educação brasileira pretendem
formar? Qual a responsabilidade que a universidade brasileira, sustentada com o
dinheiro público, realmente tem para com as comunidades? Quais os reais
compromissos têm nossos governantes para com a coisa pública?
Assim,
enquanto perdurarem este tipo de raciocínio e esta forma de pensamento, com
toda a certeza, o Brasil jamais aparecerá entre as primeiras 100 (cem) melhores
universidades do mundo. Enquanto persistir esta lógica ilógica, o Brasil jamais
formará seres humanos e cientistas capazes de pensar a sociedade, a ciência
autêntica e os destinos da humanidade. Temos que parar de brincar de
cientistas! Enfim, temos que parar de sermos capachos da sucata e do rejeito
tecnológico das nações ditas de “Primeiro Mundo”. Precisamos, urgentemente, sair de nosso
casulo confortável para muitos e repensar nossa educação, norteados por um novo
paradigma que seja capaz de atender as nossas próprias necessidades e anseios.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com